Capítulo 16: A caminho do Duat - Continuação

Depois do que parecera uma eternidade, Anya fora deixada novamente sozinha em sua banheira, enquanto os óleos de Emilia agiam em suas queimaduras. Ela suspirou alto e voltou a se concentrar. Por que aquela trouxa fazia tudo ser mais difícil? Elas não teriam muito tempo livre...
Ok... se concentrar estava um pouco difícil. Era muita vergonha para uma existência só; primeiro, a audiência, depois seu arco, e por fim, a cereja em cima do bolo da humilhação, que se passou na casa de peixes.

- Por que você não me esperou?! - Anya indagou à guisa de cumprimentos
- Está tão mal assim?!

Ela precisava saber o final da história. E também como Luanny se ferira tanto. Apesar de Anya já ter uma ideia.

- Não finja que não está me escutando, pois você estava com bastante energia até pouco tempo atrás!

A Resposta Novamente demora um Pouco para Vir, Anya sente uma perturbação no cosmo de Luanny antes da resposta.

- Ok, eu estou subindo...

Pouco tempo depois A Amazona de Gemeos já estava na Entrada da 9ª Casa. Ela vai até Anya e encosta numa pilastra...


- Então... O que...?

Ela parece estar distante...

Anya tivera tempo mais que suficiente para sair de seu banho e se vestir de forma confortável. De forma que, quando Luanny chegou, ela já se encontrava na pequena mesa que dava vista para o santuário. Em cima da mesa, dois copos e duas garrafas; Vodka e whiskey.

Aquela noite poderia ser longa. Mas bastou olhar para Luanny para Anya perceber que talvez aquela noite iria ser longa demais.

Por que ela estava com uma cara tão ruim?

- Como assim, o que? - Anya girou os olhos, afastando a outra cadeira, num sinal para que Luanny se sentasse - Depois que o mundo acabou lá na escócia, não tivemos um segundo de privacidade sequer. E então, quando finalmente podemos conversar, você simplesmente passa direto pela minha casa, sabendo que eu não posso ir até você. - Anya agora estava ficando irritada.

Bom, irritada era melhor do que a forma que ela estava se sentindo até dez minutos atrás. E então, ela se lembrou novamente de ter passado pela casa de Peixes, e se lembrou com mais detalhes do que gostaria, conforme o lampejo dourado em seus olhos poderia denunciar. E então, ela ficou muito parecida com um tomatinho.

- Só sente e beba, certo?

Anya piscou, mas dessa vez em esclarecimento. Terminou o copo que bebia, encheu mais uma vez e brindou no copo que Luanny segurava.

- Isso explica... - então ela realmente não tinha entendido. Então, Luanny não estava só sendo resmungona, ela estava magoada - Desculpe. - ela começou seu discurso de forma pouco usual, e quem conhecesse Anya a mais tempo saberia como aquilo era raro - Você não conhece os procedimentos, por isso não entendeu... Vamos do começo então; - ela tomou um gole, se preparando para a explicação - Antes de mais nada, se estiver sendo julgada outra vez, (não sei por que, mas acho que vai acontecer de novo) nunca faça o que eu fiz. Ali, éramos réus. E os outros cavaleiros atuavam como juri. Mas, eu sou uma Saintia. Meu cargo vem com muitas responsabilidades, mas com algumas regalias... Eu tenho o direito de pedir confidencialidade, mesmo em julgamento. Minha ligação com Athena é um pouco diferente da dos outros cavaleiros. Nós fomos criadas juntas, mesmo antes dela mesma saber que era uma deusa encarnada. Nós treinamos juntas; por Deus, eu a atirei através do pátio uma vez! Eu conheço Helena melhor até do que mestre Avos. E, um dia, conhecerei Athena melhor do que qualquer outro também. - ela parou para pegar ar, e aproveitou para beber mais um pouco. Ah... aquilo era bom - Então, o que eu precisava falar não era para os ouvidos dos outros. E essa era minha única carta na manga. Só que não havia como explicar por que outro cavaleiro ou amazona poderia derrogar a confidencialidade de uma Saintia. Ainda mais, este cavaleiro ou amazona estando em julgamento. É claro que estamos juntas nisso! Por isso que não entendi quando não te vi aqui.

Anya segurou o riso com muito custo, chutando o pé da cadeira de Luanny em protesto.

- Desculpe por ter mais responsabilidades que os outros. - crucou os braços, soprando um cacho para cima - E ela gosta de baunilha. Mas troca qualquer sorvete pelos biscoitos da Elise. - e então, ela sorriu - O que me lembra, ela ficou preocupada com o estado em que você estava quando passou por aqui, e te fez uma fornada quentinha. Mas Sandall não a deixou descer. Emilia deve ter guardado num saquinho para você. Mas aposto que Elise está fazendo mais agora. Então, eu aconselho, para sua segurança, que você não saia daqui antes dela te entregar dessa vez. - Anya olhara para Luanny como quem lhe avisa de um grande perigo ancestral.

Ela respirou fundo, bebendo mais um pouco. Era bom rir daquele jeito. Mas ela precisava voltar à realidade agora.

- A razão para a qual eu tomei uma surra tão grande... Foi por que eu não tinha como me defender com tudo. - Anya o último gole da vodka descera amargo - Eu perdi o  arco de Sagitário. Quando desci aquele templo, eu... me assustei. Mesmo com a cor dos cabelos diferentes. Eu pensei ter encontrado o Kai. E aquele segundos preciosos foram tempo suficiente para ele conseguir roubá-lo de mim. E eu não consegui segui-lo a tempo, como você bem sabe. - ela então finalmente deixara os ombros caírem - Isso não era algo que eu gostaria de divulgar para os quatro ventos, mesmo se tratando de Xiang e Solvité. Uma de nossas armas lendárias foi roubada, perdemos boa parte do poder de uma amazona dourada responsável pelo flanco de ataque e temos uma guerra para travar. Se você achava que nos dar punições leves ia abalar a moral dos soldados, o que acha dessa notícia agora? - ela riu nervosamente - Aquele Dragão Marinho... Ele é o monstro que dominou Kai e destruiu seu cidade, não é? - ela perguntou por fim.

Agora sim Anya não sabia o que dizer daquilo. Se fosse o caso de uma entidade ter possuído seu amigo, era fácil; bastava se livrar da entidade. Mas no caso contrário... ela havia conhecido um corpo possuído? O cavaleiro de Athena não era um homem, mas sim um... espírito? Um espírito poderia ter amado Lenneth? Um espírito tinha como sentir tudo o que Kaná sentira por todos aqueles anos? Aquilo não fazia o menor sentido.

- Por que diabos você sempre me traz dor de cabeça?! - Anya reclamou, descontando o peso da mensagem no mensageiro - Dimitri... - ela repetiu devagar, associando o nome ao inimigo. Não iria mais pensar meia vez que fosse antes de agir quando encontrasse aquele homem de novo - Mas... o que aconteceu então com Kaná? Ele não agia como alguém que dizimara uma cidade inteira. Luanny... exatamente o que aconteceu no dia que você lutou com ele? - e então, Anya se tocou de um detalhe óbvio; Luanny estava um pouco calma demais - Espere.. você já sabia sobre meu arco?[/color]

"O que aconteceu no dia que você lutou com ele?" Luanny tem evitado essa pergunta todos esses dias.


- Eu estava na minha antiga casa, vendo umas coisas da nossa família, e procurando a espada de Maxwell, eu tinha conseguido achar a metade,  achava que seria fácil pra você traduzir as inscrições do templo e fazer o ritual para pegar a outra metade... Mas quando eu ví Dimitri com ela, eu tremi, imaginei que ele tivesse te matado, mas logo senti seu cosmo, você estava lutando, então voltei a me concentrar nele. Dimitri estava furioso, ele gritava comigo, me chamava de traidora, disse pra que eu largasse tudo e voltasse com ele, que ele inventaria uma estoria qualquer  para justificar tudo que fiz...

Dimitri: - Ainda não é tarde Anna! volte comigo! Me entregue a outra metade e vamos reconstruir juntos o Atlantico Norte! Como Atlantes! Como Irmãos!

Luanny: - Dimi... Os Atlantes estão errados! Atena é a única que pode mudar esse mundo! Dimi, eu sinto muito por tudo que você passou! Grande parte disso foi culpa minha! Mas eu sei que se vier comigo de volta para o Santuário Atena e os outros vão entender que...

Dimitri: - O que?!!? DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO?!?!? O que fizeram com você? Somos Atlantes Annabele! Servimos o Imperador Poseidon!!! Só ele pode realmente mudar as coisas!!! Pense um pouco Anna... Não faz sentido o que você esta dizendo!!

Luanny: - Eu sou uma Amazona de Atena Dimitri, minha missão é proteger o mundo, TODO O MUNDO! Eu não devo selecionar quem merece viver ou morrer!!! Escolher quem é digno de andar por essa terra? TODOS NÓS SOMOS! Eu não vou compartilhar dessa utopia. Eu sou uma Atlante... Mas não sirvo Poseidon! Annabele morreu quando nossa vila foi atacada, Eu sou Luanny a Amazona de Ouro de Gemeos!

Dimitri: - Sim, eu já entendi... Então terei que chamá-la como é conhecida pelos Humanos...

Ele aponta a meia espada para a Amazona ao mesmo tempo que a Escama do Dragão Marinho cobre o seu corpo.

Dimitri: - LUANNY! Se é a Amazona de Athena que luta contra o Reino de Atlantida terei que destruí-la! SE NÃO LUTAR AO MEU LADO MORRERÁ!!!


Luanny poe a mão no ferimento do Peito....


Não conversamos mais, Não havia mais o que ser dito. Nós lutamos e eu fui derrotada... Por algum motivo ele não me matou, disse que outra pessoa o faria.

Luanny dá mais um grande gole e enche novamente o copo. voltando a beber novamente...

Ah.... aquilo era uma dor de cabeça maior do que ela pensava. Ele possuía suas lembranças, e ele lutava por um motivo, e não por que fora mandado. Ele não parecia mesmo estar sendo controlado... Anya suspirou, frustrada. Então... de quem que ela sentia falta?

- Isso não o menor sentido... - ela repetiu - Como que ele ficara aqui tantos anos? E nunca... nada... ninguém sequer... Dartha! - Anya falou de repente, seu semblante se iluminando - Dartha deve saber o que aconteceu. Não para Dimitri surgir novamente, para para saber o que tornou o "demônio" que destruiu sua vila em Kaná. - e então, outra parte do quebra cabeça se encaixou na mente dela - Espere... Outra pessoa lhe mataria? Você tem algum tipo de rixa com algum atlante?

- Com muitos... Eu sou uma desgarrada, uma traidora. Ele provavelmente não quer sujar as mãos comigo e vai mandar algum assassino terminar o serviço...

Luanny olha para Anya...


- Agora me conte a sua parte. O que aconteceu no Templo? Como ele conseguiu tirar o Arco de você sem te matar?

Anya girou os olhos... e era a vez dela olhar para seu copo.

- Eu reconheci o Kaná. Ou ao menos, achei que o havia reconhecido. - ela suspirou - Não aproveitei a oportunidade de ataca-lo enquanto estava distraído. Havia uma outra garota lá também. Ele selou o lugar com uma espécie de parede d'água. Ela era uma criança Luanny, mas atendia como Comandante. Mas... ela tirava seu poder da terra, como você já disse que ai acontecer. E... admito que minha cabeça não estava boa. - Anya revivia a angustia do momento - Ela... bom.. eu acho que ela não resistiu aos ferimentos. Mas seu objetivo nunca havia sido me derrotar. Ela conseguiu tomar meu arco, e se lançou contra aquela barreira bizarra. Não consegui ir atrás dela e bem... depois eu estava um pouco ocupada não sendo soterrada.

Ela parecia exausta depois daquela explicação. Tirava pouco alento das palavras de Mestre Avos;

- Mas irei aproveitar meu tempo de reclusão para concertar ao menos isso; mestre Avos diz que o portador da armadura de sagitário pode invocar seu arco de qualquer local do universo, ou mesmo de outros planos. Eu só preciso... bom, ser aceita por Quíron por completo. - ela deu de ombros como se aquilo fosse uma coisa simples de se fazer - Não é como se eu pudesse fazer muito mais, na realidade. - ela deixou os ferimentos à mostra - Mesmo que eu não estivesse reclusa, não acho que me deixariam sair agora

Anya ouvira alguém lhe chamar da entrada de sua casa; uma voz familiar. Luna!

- Aqui atrás! – Anya chamou, a ansiosidade fácil de ser percebida em sua voz - Você apareceu mais rápido do que eu imaginava... – ela se levantava, acenando em licença para Luanny, para receber a amiga.

- SENHORITA ANYA!

O grito alarmado de Emilia foi o suficiente para Anya ganhar velocidade da luz, apesar dos reclames de seu corpo, e surgir quase que instantaneamente na entrada de sua casa. Emilia nunca gritava.

Anya chegara a tempo suficiente para encontrar a criada ainda com as mãos cobrindo a boca e Luna escorada contra uma de suas pilastras, visivelmente machucada.

O cosmo dela se inflou de repente, procurando a ameaça. Depois, se lembrara que Luna havia acabado de voltar de uma missão, em terreno inimigo, onde ela com certeza havia se excedido. E isso era óbvio. Anya então, culparia o responsável, como era sensato de se fazer.

- Corvo maldito! – ela amaldiçoou o acompanhante de Luna. Ele devia colocar um freio nela! Não deixa-la ficar neste estado. Ela se aproximou, para oferecer suporte à Luna, mas não sabia muito bem onde segurá-la. Por fim, Anya apenas lhe estendeu o braço - Só aceite, certo? Darei sua devida bronca assim que você estiver sentada. Emilia, pode preparar um chá para Luna? Algo para aliviar a dor...

Emilia fez uma mesura, ainda com uma expressão preocupada, e se dirigiu rapidamente à cozinha.

- Exatamente como, como, numa missão de reconhecimento, você ficou neste estado? – Anya não conseguiu manter sua promessa, de esperar Luna sentar para começar com a bronca. Não seria muito difícil para Luna perceber a extensão da preocupação da amiga

[color#3366cc]- É possível que...[/color] - Anya repetiu movendo apenas os lábios, resistindo à vontade de gritar. Sua dose de frustração por um dia já havia sido completamente gasta.

Mas ao fim do relato de Luna, a sagitariana estava totalmente focada de novo. Aquela expressão não era boa... Além de que... o panteão egípcio era imenso! Quantos deuses haviam em suas fileiras?

- O que você descobriu lá, Luna? - Anya se preparava para cruzar com as informações que ela mesma e Luanny havia obtido, mesmo que de forma inesperada.

Anya suspirou audivelmente. Malditas malditas...

- Sim, por um acaso nós encontramos com Khepri na Escócia. - Anya revelou, ligeiramente incomodada [color:96f4=#color] - Ele nos disse que estava a fazer "pesquisa", seja lá o que isso signifique. Pelo visto, ele não mentiu quando nos disse que estava por trás de toda essa guerra contra Athena. - Anya recordava seu "agradável encontro" com a divindade. Deixou sua consciência se expandir, conforme seu cosmo subia, seus olhos adquiriam o tom dourado - “A noite quando se fizer, cairá e será eterna e o mal que açoitará o mundo virá das mãos justas e não as corruptas. O sol se apagará e suas doze pontas serão quebradas. Roubada será a lua, e ocultada será as estrelas. É isso que meus olhos veem; Athena deve cair e este mundo deve ser purificado. O mal presságio é para toda a existência. Do paraíso ao submundo, do Olímpio. e tudo sairá das mãos de Athena. Ela tem em suas mãos os irmãos caçadores, o espírito da sabedoria e heroísmo, o olho que tudo vê, a protetora dos caídos, e o jovem tirano. O cenário está pronto para a queda deste mundo." Foi com esse recado que ele se apresentou. - Anya recitou palavra a palavra a profecia de Khepri, mas havia mais, e ela sabia disso, por isso, continuou. mas dessa, não mais recitava, e sim acrescentava suas próprias conclusões   - Ele disse que já haviam juntado toda a energia necessária para o retorno de Rhá, e mesmo que nós o tivéssemos matado, de nada adiantaria. Não sei se se tata de despertar uma consciencia ou uma nova entidade. Khepri, como divindade, foi ligeiramente rebaixado, não? Ele seria mais como a carruagem de Apollo, do que uma outra face do deus.

Anya gostaria de acreditar que os Atlantes haviam de fato dado cabo de Khepri, mas isso não resolveria nada, como o mesmo já havia falado.

- Você está certa; precisamos descobrir mais. Adhara deve saber mais sobre a influência do movimento estelar sobre o panteão egípcio... - Anya admitiu, ainda tentando vasculhar sua memória, mas Quíron não parecia ter muito mais interesse sobre os adoradores de areia. Foi quando ela entrou em suas próprias lembranças - O que me lembra! - Anya fora atrás do que restara de sua bagagem, e encontrou ali, preso ainda em tecido o e cosmo, o escaravelho que ela e Luanny abateram no hotel. Como que havia esquecido dele?! Bom... primeiro ela perdera seu arco, depois, quase morrera debaixo de um templo atlante. Fora julgada e punida (mesmo que levemente) por Athena e ainda aconteceu... aquilo na casa de peixes. Anya corou violentamente, seus olhos voltadno ao azul costumeiro, rezando para todo o sagrado panteão de que Luna não estivesse com sua telepatia funcionando no momento, enquanto ela balançava a cabeça, focando no que importava. Já tinha usado sua memória expandida o suficiente por aquele momento - Preciso entregar isso para Siryus...- ela corou novamente - Ele já encontrou um destes e os estava pesquisando... Será que uma de vocês... - ela indagou, olhando para as amigas quase com súplica.